Uma das principais razões que levam ao abandono de papagaios é o comportamento agressivo para com humanos. Na raiz deste problema está a afeição exacerbada por uma pessoa que elegem como favorita. Perante a restante família, o papagaio pode tornar-se agressivo e ciumento.
Os papagaios relacionam-se com os humanos da mesma forma que se relacionam com outras aves em estado selvagem. Estas aves tendem efectivamente a escolher um parceiro com quem estabelecem um laço especial, o que o fazem também com os humanos. Apesar disso não deixam de ser aves sociáveis: vivem em bandos e interagem com outras aves. Assim, não é natural para estas aves interagirem apenas com uma pessoa, uma vez que na natureza também lidam pacificamente com o resto do bando, ou família.
Contudo, como o papagaio tem tendência a favorecer uma pessoa, a restante família acaba por não fazer um esforço para conquistar a ave. Isto acaba por ser uma receita para o desastre quando o papagaio começa a atingir a maturidade e o nível de agressão perante os membros não preferidos começa a surgir.
Mas habituar o papagaio a aceitar várias pessoas não se trata apenas de garantir a paz familiar, trata-se também de assegurar um bom futuro para a ave. Devido a uma longa esperança média de vida é provável que um papagaio comprado por um adulto possa viver durante mais tempo do que o dono e é importante que a ave esteja bem socializada para que possa transitar para outra casa e outros donos que se encarreguem de cuidar dele.
Existem muitas razões que fazem com que o papagaio escolha uma pessoa como companheiro em detrimento da restante família, sendo a mais frequente, o facto de essa pessoa passar mais tempo com o papagaio. Mas existem excepções e o papagaio pode eleger:
- a pessoa que brinca mais com ele, que o treina ou faz outras actividades;
- a pessoa que dá mais guloseimas;
- uma pessoa do mesmo género que o criador ou dono anterior;
- a pessoa mais calma, que não faz barulho (gritar, batar com as portas, etc);
- a pessoa que se estabeleceu como líder da família humana;
- a pessoa que alimentou à mão o papagaio;
- a pessoa que tem um penteado engraçado ou jóias ou bijuteria que chame a atenção da ave.
Em estado selvagem os papagios escolhem um parceiro entre os 6 e os 8 anos de idade. Em cativeiro, estas aves são mais precoces e podem atingir a maturidade sexual entre os 3 e os 6 anos. Contudo, papagaios com seis meses de idade podem começar a expressar de quem gostam e não gostam dentro de casa. Mas este comportamento não deve ser confundido com a escolha de um parceiro. Os papagaios são monógamos e escolhem por isso um companheiro para a vida. Aos seis meses, as aves são ainda pouco maduras para tomarem essa decisão e estão provavelmente apenas a tentar dominar a família humana.
Em cativeiro, a escolha de um companheiro favorito surge geralmente aos 2 anos.
Como foi dito anteriormente, a escolha de um parceiro não implica que o papagaio não esteja disposto a interargir com a restante família humana. Geralmente são as pessoas preteridas que, magoadas por não terem sido as eleitas, afastam-se do papagaio e acabam por lidar menos com ele.
O papagaio acaba então por se habituar a interagir sobretudo com o dono que ele elegeu como preferido, o que, com o passar do tempo, pode levar a comportamentos agressivos, como bicar, quando outras pessoas se aproximam dele próprio ou do dono.
Prevenção
A melhor forma de combater comportamentos agressivos baseados no ciúme ou territorialidade é preveni-los. Ao adquirir um papagaio, a família deve estar alertada para o facto de este se ir afeiçoar mais a determinada pessoa, mas isso não impede que o papagaio deixe de gostar ou de se relacionar com todos.
Partindo do princípio que o papagaio se afeiçoa a quem lhe dá mais atenção, o manuseio do papagaio deve ser feito em conjunto e com todos os membros da família presentes. Num território neutro para o papagaio, a família pode-se dispor em círculo e interagir com a ave. A passagem da ave de um membro para o outro deve ser feita por comando da pessoa que se segue. Os membros podem brincar, acariciar, etc. a ave, conforme aquilo que ela preferir. A ave deve passar por todos várias vezes.
Se esta rotina for mantida semanalmente, o papagaio vai dar-se bem com todos os membros envolvidos.
Para além das actividades em conjunto, os membros da família devem ter tarefas específicas relacionadas com o papagaio para estabelecerem com ele um laço individual. Uma opção é dividir as actividades preferidas do papagaio pela família. Cada pessoa fica responsável em exclusivo por uma tarefa: dar banho, dar guloseimas, brincar ao jogo preferido, etc.
Se o papagaio mostrar qualquer comportamento agressivo perante a restante família, a pessoa que foi eleita por ele como companheira deve olhar para ele e dizer um “Não” calmo, mas assertivo.
Reabilitar
É possível moldar o comportamento dos papagaios e voltar a incluir os restantes habitantes da casa na família do papagaio. Contudo, é um processo moroso que exige tempo e dedicação de todos os envolvidos.
Geralmente papagaios que reagem agressivamente para com restantes membros da família são animais a quem lhes foi permitido exercer domínio sobre os humanos, dono incluído. Por isso é necessário que o dono conquiste o domínio sobre o papagaio para que seja o dono a ditar o comportamento que a ave deve ter perante os restantes membros da família e não o papagaio a decidir por si mesmo. Assim, o treino é a solução. O treino pode comear por coisas simples como “para cima” ou “para baixo” e evoluir gradualmente a partir daí. O papagaio deve ser recompensado sempre que executar correctamente uma ordem. A recompensa pode ser uma guloseima ou palavras meigas.
O treino deve ser sempre feito num local específico e neutral para o papagaio. Quando o papagaio começa a obedecer aos comandos “para cima” e “para baixo”, o dono deve colocá-lo no local de treino, sair da divisão e dar a vez a um outro membro da família. Esse membro deve fazer exactamente o mesmo treino, exercendo assim domínio sobre a ave. As guloseimas são sempre uma óptima opção para conquistar a confiança do papagaio e devem ser dadas frequentemente pelas pessoas não favoritas da ave.
Originalmente publicado na Arca de Noé: Fonte
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